Meu candidato para as próximas eleições

Não, querida Luíza, não perdi a esperança, pois envelhecer é para os fortes, como lembrou a amiga Ana Figueiredo. Apesar de tudo o que nos aconteceu nos últimos anos, depois do doloroso aprendizado sobre o apodrecimento de nossa democracia, encontrei o único candidato que pode mudar nosso destino, porque ele possui algumas qualidades:

Meu candidato recusará qualquer forma de populismo, seja de direita ou de esquerda, porque populismo é sempre um atraso, e não aceitará se tornar o salvador da pátria, nem o pai dos pobres, nem o guia do povo.

Meu candidato promoverá uma reforma política livrando o Congresso Nacional dos políticos corruptos e encerrará a troca de ideias por favores, resultando no fim dos votos comprados, das propinas milionárias e do desperdício do dinheiro público.

Meu candidato resistirá ao domínio dos bancos e das grandes corporações, impondo freios ao capitalismo e desenvolvendo mudanças estruturais que nos levarão no longo prazo para uma sociedade mais justa e igualitária.

Meu candidato defenderá a inclusão completa das minorias desfavorecidas e não será comprado pelas minorias financeiras, pois haverá de agir sempre na direção do bem comum e da sociedade como um todo.

Meu candidato incentivará a solidariedade e não a competitividade.

Ele apoiará a ciência e a tecnologia a serviço da felicidade e não do lucro.

Ele devolverá a cidadania às pessoas reduzidas à condição de consumidores.

Para ele, não haverá discriminação de gênero, inclusive porque ele é, ao mesmo tempo, candidato e candidata.

Você já deve ter desconfiado que meu candidato para as próximas eleições é o eleitor.

Somente ele pode nos salvar.

Sim, confesso a você que ele possui algumas características que ainda me preocupam, como acreditar em bíblias, em macumbas e no diabo, ser machista e violento com as mulheres, levar o futebol mais a sério do que o meio ambiente, gostar mais do próprio cachorro do que das crianças dos outros, beber e dirigir se não houver fiscalização e sonegar impostos sempre que possível.

Mas são detalhes, coisas pequenas que podem ser corrigidas até as próximas eleições.

Como vê, sou pura vesperança.

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